Com performances que desafiam os próprios conceitos tradicionais da modalidade, o Videobrasil continua este ano com o que já tornou uma tradição: o estímulo a artistas que vêm pesquisando híbridos resultantes da combinação e do diálogo entre imagem em movimento, música, dança, o próprio corpo e o espaço cênico. Nesta edição, Alexandre da Cunha, Eder Santos, Luiz Duva e Marcello Mercado – premiado no 13º Videobrasil – são os representantes dessa forma de expressão viva e em constante transformação. O programa, variado e com diferentes abordagens, leva adiante a idéia do festival de promover uma espécie de permanente laboratório pensante.

Dando continuidade a um extenso trabalho de pesquisa em que música e imagem ganham um encontro único, Eder Santos traz a première de Concerto para pirâmide, orquestra e sacrifício, resultado de sua experiência no México. A performance apresentada no teatro faz referência às culturas pré-colombianas, em um ambiente em que música, imagens e movimento se combinam de modo singular, tendo como inspiração o México.

Na performance - que utilizou uma estrutura escalonada, piramidal - uma dançarina representando a morte se movimentava no palco, enquanto os músicos tocavam (a música não era uma simples trilha sonora, mas parte ativa da obra) e imagens reais combinavam-se com imagens virtuais.

Artistas

Obras

Texto de curadoria 2001

Um dos conhecidos (e reconhecidos) videoastas brasileiros, o mineiro Eder Santos vem desenvolvendo também uma série de incursões no universo das performances, marcadas sempre por um intenso diálogo entre os frames das imagens e a música. Assim como em seus trabalhos em vídeo, radicais e jamais óbvios, Eder Santos lança mão em suas performances de variadas referências e procedimentos experimentais que estão ajudando a construir uma linguagem própria. As performances, portanto, devem ser entendidas como um formato original, iniciado já em 1994, no 10º Videobrasil, com a obra “Poscatidevenum”, espetáculo desenvolvido para partituras de vídeo e música feita com letras para frames.

A partir de bases pré-montadas, Paulinho Santos, do grupo Uakti, criava músicas na ilha de edição. Dessa forma, o autor, em colaboração com outros artistas, desenvolvia narrativas sincronizando música e vídeo, e criando um tempo próprio na performance. Em suas intervenções, Eder Santos pode desempenhar simultaneamente o papel de maestro e editor, utilizando ocasionalmente imagens do próprio público que assiste à performance que, dessa forma, também se torna parte dela.

No 13o Videobrasil, Eder Santos apresentará um projeto original que já representa o quarto a utilizar essa nova linguagem fortemente ligada à música. Batizada de “Concerto para Pirâmide, orquestra e sacrifício”, a performance faz referência às culturas pré-colombianas, e resulta de uma passagem do artista pelo México, onde expôs no Museu de Arte Moderna. Fascinado com as construções piramidais que viu no local e utilizando também como referencia a maneira como a morte é vista e está presente no cotidiano do país (como mostram as festividades voltadas para os mortos em diferentes partes do país), Eder Santos criou uma performance em que ambiente, música, imagens e movimento se combinam tendo como inspiração o México: a música, as tradições, a arquitetura, um tempo já passado, e o imaginário. Na performance, que utiliza uma estrutura escalonada, piramidal, uma dançarina representando a morte se movimenta no palco, enquanto os músicos executam o que vai muito além de uma simples trilha sonora.

Trata-se, afinal, de uma parte ativa da obra. Imagens reais se combinam a outras, virtuais, e a música se torna componente híbrido, ligado de forma mais que complementar às imagens.

“Concerto para pirâmide, orquestra e sacrifício”, na verdade, é um firme passo rumo à cristalização dessa linguagem performática que vem sendo exaustivamente pesquisada por Eder Santos em suas apresentações no Videobrasil.

Premiado no Brasil e no exterior, Eder Santos iniciou sua carreira como videoasta no anos 80, com obras em que ruídos e aparentes falhas técnicas podem ser partes integrantes da ideia. Em seus vídeos, o autor pode tanto investigar a banalização da imagem e a impressão de que é ela que constrói e conserva a realidade – como em “A Europa em 5 minutos”, com uma sucessão de monumentos e pontos turísticos – como utilizar um clássico do cinema brasileiro ( “Limite”, de Mário Peixoto) para falar sobre o sentido das imagens (como no vídeo “Janaúba, de 1993, premiado no Videobrasil). 

ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL, "13º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil": de 19 a 23 de setembro de 2001, p. 203 a 204, São Paulo, SP, 2001.