Na videoinstalação As If Memories Could Deceive Me, Marcel Odenbach estrutura diversos temas por meio dos quais expressa o impacto de sua formação, de sua percepção da história e de sua identidade cultural. A vinda da obra ao Festival foi proposta pela curadora Kathy Rae Huffman.
Artistas
Obras
Texto de curadoria Kathy Rae Huffman, 1990
As if Memories could deceive me
Em “As If Memories Could Deceive Me”, Odenbach estrutura diversos temas através dos quais expressa o impacto de sua educação germânica, burguesa, sobre sua percepção da história e de sua identidade cultural. O arranjo e a execução da obra sinfônica “Manfred”, de Robert Schumann, apresenta o contexto cultural e retrata a gama de emoções românticas e o orgulho nacionalista associados à Alemanha. Em contraposição, um ponto de vista subjetivo para desafiar a ordem social (o passado, a memória coletiva como expressados pelos clássicos). Esse contraste apresenta o ceticismo do artista sobre influências culturais, as considerações conflitantes e dominadoras de sua consciência, cujo questionamento foge aos seu domínio e à influência da transição.
A busca de uma história pessoal dentro do grande nacionalismo histórico de uma sociedade e o mistério desse processo tem sido uma constante na obra de Marcel Odenbach. As polaridades que ele escolhe, tanto nos elementos visuais, como nos sonoros, revelam a mais íntima exploração da tensão – uma percepção final – de que ele é um produto de seu ambiente social e cultural. Entretanto essas influências que têm sido passadas de geração para geração através da música clássica narrativa, estão sendo agora transmitidas pela mídia. A seletividade em busca do individualismo artístico e – especificamente na obra de Odenbach, a identificação masculina – é decisivamente representada por imagens da moda e pela sedução de influência consumista.
O teclado do piano e seu reflexo no verniz polido é uma metáfora e se transforma no veículo pessoal para a memória de Odenbach. Passagens de filmes alemães, sobrepostas a documentários pré e pós guerra são imagens estabelecidas e internacionais reconhecidas como estereotipadas da Alemanha, desafiadas pela presença do artista ao teclado. Sua interpretação subjetiva do estilo e a força que ele transmite é cumulativa – ainda que aberta, em um corolário contemporâneo chocante encontrado na indústria da moda. A instalação representa a luta do artista contra a hierarquia da memória, e o domínio e/ou aceitação das influências culturais. O gesto de aceitar e rejeitar o indesejado é simbolizado pela arrumação familiar de plásticos descartáveis, que indica o fracasso da história em proporcionar identidade individual.
8th Fotoptica Internacional Video Festival. 09 a 15 de Novembro de 1990. p. 91 a p. 92.