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Texto de curadoria 1998
Na performance do artista americano, o humor de um personagem cômico e trágico: Mike, um homem comum
Humor trágico, ao mesmo tempo sutil e patético, é o que predomina nessa performance de Michael Smith. Artista reconhecido nos Estados Unidos e, especificamente, em Nova York, onde mora, Smith tem desenvolvido através de instalações, vídeos e performances um personagem único para protagonizar suas criações: Mike, espécie de alter ego incorporado em cena.
Mike é um homem comum que, segundo o autor, “acredita em tudo e não entende nada” em seu mundo saturado de informação. Através desse personagem, ele tem vivido, já ao longo de vinte anos de atuação, cenas banais do cotidiano que revelam seu esforço hilariante de tentar o sucesso sem obter êxito. Em cena, Mike se apresenta com gestos e expressões faciais exagerados através das quais sobrevém, sob uma superfície aparentemente tola, uma crítica mordaz e sutil a alguns dos signos mais comuns da vida moderna.
Sob o nome genérico de Mike’s Talent Show, Smith tem apresentado seu personagem em variado número de versões, tanto através de instalações, como também em performances e vídeos. Na versão apresentada no Videobrasil, Smith apresenta Mike preparando-se para ir a uma festa que pode nunca ocorrer. Temas como exclusão, solidão e banalidades ocupam a mente de Mike ao longo do dia, antecipando um evento que está fadado a ser um desastre. “À medida que se apronta para a festa, fica claro que sua identidade depende da avaliação que os demais convidados farão dele. Infelizmente, a noção de Mike sobre si mesmo está determinada pela mentalidade da cultura de consumo”, define o autor.
Michael Smith foi pintor antes de começar a se interessar por instalações e vídeo. Foi assim que aprendeu a se interessar pelos recursos da luz e de como trabalhar com ela. Mas o vídeo surgiu em sua vida principalmente como um meio. “Os meios eletrônicos geram imagens que só me interessam como um meio para desenvolver uma determinada narrativa”, diz ele. Essa narrativa é tecida através de seu personagem Mike, declaradamente inspirado em comediantes célebres do cinema, como Buster Keaton. Entre os videoartistas, Mike gosta de citar William Wegman, entre suas referências: “um artista que fez um monte de vídeos do seu cachorro”, como explica ele.
Smith apresenta sua criação com a mesma desenvoltura tanto em instalações, vídeos e performances — e muitas vezes, combinando todas essas alternativas — mas tem uma queda especial para a televisão broadcast. Na verdade, alguns de seus trabalhos em vídeo são formatados especificamente com essa intenção. Ainda assim, suas criações tem frequentado alguns dos mais importantes espaços de videoarte, tanto dos Estados Unidos como da Europa.
ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL, "12º Videobrasil": de 22 de setembro de 1998 a 11 de outubro de 1998, p. 84 , São Paulo, SP, 1998.