A curadoria de Lynne Cooke é uma seleção de quatro vídeos norte-americanos, produzidos entre 1998 e 2001, que compartilham a preocupação de combinar diversos gêneros e disciplinas que invocam as origens e a herança do vídeo em outras formas de arte. Todos mantêm um caráter irônico, bem-humorado e sutil. Estava programada uma apresentação da curadora sobre a mostra, mas não houve, porque ela não pôde vir ao Brasil, devido aos acontecimentos de 11 de setembro. A exibição da mostra ocorreu no auditório do galpão.
Artistas
Obras
Texto de curadoria Lynne Cooke, 2001
Conexões Irônicas, Sutis e Bem-Humoradas
Muitos dos mais memoráveis e poderosos trabalhos de vídeo single-channel realizados nos Estados Unidos em anos recentes foram criados por artistas visuais que trabalham com uma variedade de mídias, cruzando vários campos. A maioria é de artistas visuais para quem o espaço da galeria ou do museu é o espaço primeiro, se não exclusivo, e para quem a questão do meio é determinada pelas necessidades de cada projeto, e não como o resultado de um compromisso com um só material, gênero ou forma de arte. Assim, para eles, seja o single-channel designado para um monitor, seja para a projeção em um auditório, o trabalho implica introduzir preocupações e requisitos para aquele espaço real, sempre estritamente dentro do quadro e do contexto de artes plásticas.
Os trabalhos selecionados para este programa compartilham uma preocupação de engajar outros gêneros ou disciplinas para a criação de referências sobrepostas e alusões que a seu turno invocam as origens e a herança do vídeo em outras formas de arte. O fato de eles o fazerem de maneira irônica, sabidamente jocosa, bem-humorada e sutil, faz com que se conectem ainda mais. Além disso, a recusa de uma desconstrução analítica do meio e suas modalidades está longe de tornar seus trabalhos meramente passivos ou modistas, ao se aproveitarem de várias formas de entretenimento como seu modus operandi. Filme e literatura são parte de nossa herança, assim como a televisão, o desenho animado, os videogames e os filmes caseiros. Nenhuma oposição é estabelecida, já que há um claro reconhecimento de que o cinema, tanto quanto o romance, é mais freqüentemente experimentado através do filtro da tela da televisão. Se o vídeo permeia a vida cotidiana de múltiplas maneiras, desde o aluguel de fitas até as gravações familiares amadoras, a televisão e o lazer, sua hegemonia e ubiqüidade estão, não obstante, sob ataque na forma de poderosas incursões dos meios computacionais, que parecem agora ‘morfinizar-se’ exponencialmente para dentro de cada aspecto da vida diária. Sua infiltração incansável e a usurpação do campo visual assinalam o rápido desaparecimento da centralidade inexpugnável do vídeo, dando a este meio a promessa de uma nostalgia em declínio. Sopros de retrospecção recaem sobre esta seleção de fitas, mas não só por sua preocupação com amostragem, apropriação e reciclagem, ainda que isso aconteça através de canais e condutores não-familiares ou inesperados como a incomum justaposição do Super-Homem e Sylvia Plath, ou do abraço de De Palma e Antonioni que, de maneira malandra, ultrapassa as fronteiras do decoro próprio a uma homenagem. Manhosamente "derrubando", casualmente indiferente, estes quatro trabalhos falam de modo eloqüente do fardo com que os artistas se deparam neste terreno progressivamente precário.
ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL, "13º Videobrasil": de 19 de setembro de 2001 a 23 de setembro de 2001, p. 177 e 178, São Paulo, SP, 2001.