Curadoria convidada |

A partir do diagnóstico segundo o qual, ao longo da década de 1990, os artistas de cultura anglo-saxã teriam se engajado numa espécie de cinismo generalizado, o curador Michael Mazière seleciona obras que contrariam essa tendência. Elas expandem a linguagem tecnológica a partir de relações com a filosofia e a memória, valorizando as emoções, a beleza, as sensações e os estados psicológicos, numa aliança entre subjetividade e poesia.

Artistas

Obras

Texto de curadoria Michael Mazière, 2001

A Necessidade poética

Na cultura anglo-saxã, durante a última década, muito da atenção das artes visuais tem sido centrada
ao redor da celebração de conceitos, da atitude e da ironia. No declínio desta onda, este programa nos traz uma perspectiva nova e fresca de uma arte que engaja a beleza, a emoção, a tecnologia, a memória, o amor e a filosofia. Estes trabalhos são uma exploração de sensações e estados psicológicos, o subconsciente, tanto quanto uma celebração da expansiva linguagem tecnológica. São freqüentemente orientados pelo processo, em vez de serem orientados por um conceito, tornando o desenrolar da obra tão importante quanto as idéias por trás dela. Um número crescente de artistas visuais vem trabalhando com a imagem em movimento através do filme e da instalação de vídeo e trabalhos interativos, o que fez com que tradições de arte experimental de vídeo e de artes visuais se dissolvessem. Os artistas apresentados neste programa possuem todos um compromisso muito definido com o cinema e as artes visuais, e muitos operam nos dois mundos. Eles oferecem uma ponte única entre essas duas práticas distintas. Estes artistas podem ser considerados de natureza híbrida, o que se reflete ainda em sua exploração sofisticada de vários mundos de tecnologia e emoção. 

Hotel Central, de Matt Hulse, é uma peça surrealista que celebra o texto onírico como uma estrutura dramática, enquanto em Furniture Poetry, de Paul Bush, objetos estáticos são animados em um comovente tributo filosófico a Wittgenstein. Em Ferment, usando o processo Time Slice Camera, Tim Macmillan inverte a lógica do cinema, ao literalmente mover-se através do espaço ao mesmo tempo em que congela o tempo. Oliver Harrison, em Love is All, usa filme de animação e técnicas experimentais para criar um belo e surreal tributo ao amor. 

Subjetividade e intimidade são processos-chave para os trabalhos de Breda Beban, Dryden Goodwyn e eu mesmo. Estes trabalhos trazem as emoções para o primeiro plano ao explorar de muito perto e de maneira muito pessoal os territórios do Eu e do Outro. Eles operam sobre a estreita linha que separa o melodrama das emoções, o pessoal do universal, a linguagem do inconsciente, apresentando textos que são freqüentemente sombrios, mas sempre iluminadores. Os meus trabalhos Blackout e Delirium são poemas que exploram condições psicológicas humanas e a paisagem emocional privada (que é no entanto universal) que as circundam. Estes textos psicopoéticos são trabalhos abertamente subjetivos de sensualidade visual e de escavações arqueológicas do inconsciente.

One With Everything, de Daniel Reeves, é um trabalho mais leve, uma narrativa espiritual sobre os desafios existenciais de um monge budista que confirma de forma humorística que há definitivamente uma necessidade poética em todas as compreensões do mundo.

ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL, "13º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil": de 19 de setembro de 2001 a 23 de setembro de 2001, p. 181, São Paulo, SP, 2001.