Com obras de jovens artistas, este eixo diz respeito a visões de mundo emergentes na última década. Este período representa, de certa maneira, uma série de reconfigurações tanto de ordem política quanto tecnológica, sendo ambas calcadas no âmbito da cultura digital. Novos Vetores inclui vídeos e obras interativas que se apropriam dos suportes, linguagens e possibilidades de realização de forma bastante livre e, por isso mesmo, desconcertante. São trabalhos inquietantes, marcados pela espontaneidade, pelo frescor e pela liberdade de transitar “despudoradamente” por diferentes abordagens de contextos sociais, estéticos e técnicos, esgarçando e reestruturando os limites da produção artística contemporânea. Olhar atentamente para a produção abrigada por Novos Vetores nos possibilita, assim, vislumbrar tendências de uma produção por vir, ainda na brutalidade de seus esboços.
Artistas selecionados
- Adams de Carvalho
- Adriana Bravo
- Alexandre Brandão
- Alfred Muchilwa
- Ali Cherri
- Alice Miceli
- Alvaro Covarrubias
- Anaisa Franco
- Andrea Robles
- Andrés Denegri
- Anna Sokolova
- Axel Weisz
- Ayrson Heráclito
- Aza Pinho
- Bouchra Khalili
- Carlos Motta
- Charly Braun
- Christian Parsons
- Coletivo Ocasional
- Daniel Lisboa
- Daniel Maia
- Danillo Barata
- Dorothy Migadde
- Enrique Ramírez
- Eva Kozma
- Fernanda Gomes
- Fernanda Goulart
- Fred Paulino
- Gabriel Acevedo
- Gabriel Menotti
- Hernán Apablaza Peñaloza
- Jasmin Pinho
- Joana PMR Oliveira
- Juan Gilberto Esparza Gonzalez
- Kika Nicolela
- Laura Pacheco Coutinho
- Laura Tafarel
- Liana Cunha
- Luciana Barros
- Luciana Sario
- Manuel Mingo
- Marcos Medici
- Mariana Martins de Camargo
- Matias Guisado
- Mauris Henrique Poggio dos Santos
- Mel O'Callaghan
- Nathan Mpangala
- Olívia Brenga Marques
- Paulo Vilela
- Pedro Vilela
- Rafael Henrique Barbosa de Sousa
- Renata Luciane Tonezi Deformes
- Rick Silva
- Ritiane de Cássia Rodrigues da Silva
- Samanta Pamponet
- Samuel "Tuf" Mulokwa
- Sebastián Díaz Morales
- Thiago Villas Boas
- Victor-Hugo Borges
- Victoria Sayago
- Ziad Antar
Obras selecionadas
- 02. Conjunto residencialAdams de Carvalho, Olívia Brenga Marques, 2005
- Anatomia de una mariposaAdriana Bravo, Andrea Robles, 2004
- Entre-quandoAlexandre Brandão, Laura Pacheco Coutinho, 2005
- Ding DongAlfred Muchilwa, Samuel "Tuf" Mulokwa, 2004
- Un Cercle autour du soleilAli Cherri, 2005
- 88 de 14.000Alice Miceli, 2004
- Nos roban el aguaAlvaro Covarrubias, Hernán Apablaza Peñaloza, 2005
- Ecossistema da spiderrrAnaisa Franco, 2003
- UyuniAndrés Denegri, 2005
- Le CollierAnna Sokolova, 2004
- Operação cavalo de TroiaAxel Weisz, Laura Tafarel, Thiago Villas Boas, 2004
- BarruecoAyrson Heráclito, Danillo Barata, 2004
- Aristocrata clubeAza Pinho, Jasmin Pinho, 2004
- Vue panoramiqueBouchra Khalili, 2005
- Letter to My Father (Standing by the Fence)Carlos Motta, 2005
- 17 Life FablesCharly Braun, Matias Guisado, 2003
- Tabla de documentosChristian Parsons, Marcos Medici, 2005
- VisitaçõesColetivo Ocasional, 2005
- O Fim do homem cordialDaniel Lisboa , 2004
- O Vingador do futuroDaniel Maia , Mauris Henrique Poggio dos Santos, Rafael Henrique Barbosa de Sousa, Renata Luciane Tonezi Deformes, Ritiane de Cássia Rodrigues da Silva, 2004
- WahuDorothy Migadde, Nathan Mpangala, 2004
- MiraEnrique Ramírez, 2004
- I´m Just Playing a BitEva Kozma, 2005
- Derivado da minha belezaFernanda Gomes, Luciana Barros, 2004
- Alugo-meFernanda Goulart, 2003
- BoomBanner.netFred Paulino, 2005
- ParálisisGabriel Acevedo , 2005
- A Fluo Dança!Gabriel Menotti, 2003
- Hablar de sueñosJoana PMR Oliveira, 2003
- GotaJuan Gilberto Esparza Gonzalez, 2003
- Trópico de CapricórnioKika Nicolela, 2005
- Exu - A Boca que tudo comeLiana Cunha, Samanta Pamponet, 2003
- MutilacionesLuciana Sario, Manuel Mingo, 2005
- TítereMariana Martins de Camargo, 2004
- The FallMel O'Callaghan, 2004
- SCI FI Punk ProjectsPedro e Paulo Vilela, 2004
- SupercolliderRick Silva, 2004
- Lucharémos hasta anular la leySebastián Díaz Morales, 2004
- LoopLoopVictor-Hugo Borges, 2004
- Algo pasa en PotosíVictoria Sayago, 2005
- WA Tambouro Tokyo TonightZiad Antar, 2004
Prêmios e menções
- Prêmio FAAP de Artes DigitaisUn Cercle autour du soleilAli Cherri, 2005
- Prêmio Novos VetoresO Fim do homem cordialDaniel Lisboa , 2004
- Menção Honrosa02. Conjunto residencialAdams de Carvalho, Olívia Brenga Marques, 2005
- Menção HonrosaParálisisGabriel Acevedo , 2005
Membros do Júri
Projeto de troféu
Para criar o troféu do Festival, o artista Luiz Zerbini baseou-se livremente em sua obra Atlântico (2004). Um dos artistas que despontaram na década de 80, Zerbini integra o grupo Chelpa Ferro e desenvolve sua linguagem na utilização diversificada de mídias como vídeo, escultura, fotografia, música, desenho, pintura, arte gráfica, ambientes e instalações.
Statement do Júri
O Júri de premiação do 15º Festival Internacional de Arte Eletrônica - Videobrasil levando em consideração a capacidade em apresentar a potencialidade da criação eletrônica, em obras de realizadores nascidos a partir de 1975, que nos permite vislumbrar tendências de uma produção por vir, ainda na brutalidade de seus esboços, proposta pela mostra Panoramas do Sul, atribui o Prêmio Novos Vetores, correspondente ao terceiro dos três eixos desta edição do Festival ao trabalho O fim do homem cordial, de Daniel Lisboa, por seu comentário irônico das políticas atuais, por seu uso dos meios de comunicação de massa e por suas apropriações dos valores e das questões sócio-político-econômicas locais projetando-as em uma dimensão universal.
Nesta mesma linha, e coerente com os valores identificados no trabalho premiado, o Júri destaca com uma menção honrosa 02. Conjunto Residencial, de Adams Teixeira de Carvalho e Olívia Brenga Marques, e Paralisis, de Gabriel Acevedo Valverde.
Setembro de 2005,
Marcos Moraes, Sergio Edelsztein e Ximena Cuevas
Texto da comissão de seleção 2005
Panoramas do Sul
Cartografar a produção audiovisual recente, alimentar circuitos e, principalmente, favorecer a troca, o diálogo e a interseção: estes intuitos movem a mostra Panoramas do Sul. São trabalhos produzidos por artistas dos países do eixo sul de um mapa ao mesmo tempo geopolítico e simbólico. De um lado, revelam um recorte possível – sempre instável e circunstancial – da dinâmica produção artística desenvolvida entre 2003 e 2005. Por outro lado, possibilitam leituras transversais da complexa realidade contemporânea, das relações culturais e intersubjetivas que nela se estabelecem, das implicações midiáticas e das inúmeras políticas de apropriação do tecnoimaginário atual. A seleção é nossa contribuição crítica ao universo da arte eletrônica, na medida em que traduz um olhar sobre a criação. Esse olhar – que é também uma criação – permite perceber linhas de força, movimentos emergentes, inventividades e, o mais importante, colocar essas percepções em discussão. Pensando nisso, a comissão de seleção e programação do 15º Videobrasil aprofundou uma proposta que já se esboçava na edição anterior do Festival, e dividiu a mostra em eixos: Estado da Arte, que reúne exemplos de maturidade artística no uso das mídias eletrônicas; Investigações Contemporâneas, com obras que buscam ampliar os limites das linguagens; e Novos Vetores, composta da produção de jovens realizadores. Longe de fixar hierarquias, a divisão busca aproximar experiências e criar um mapa mais “inteligível” e uma topologia aberta a uma multiplicidade maior de trabalhos.
RETOMADAS E DESVIOS
Como não poderia deixar de ser, em um território mutante como o da arte eletrônica, a cada ano, o panorama da produção do eixo sul apresenta surpresas e inesperados desvios de percurso. O diálogo dos artistas com a tradição das artes audiovisuais, longe de ser contínuo e homogêneo, se dá por descontinuidades e retomadas em um movimento imprevisível, de difícil síntese. A mostra competitiva do 15º Videobrasil reafirma essa idéia. Tentar mapear as linhas de força da produção recente é traçar percursos que são mesmo enviesados: em interação não apenas com sua própria história, mas também com a herança de outros campos de criação artística – do quadrinho às artes performáticas, passando pelo design, a literatura, a música e as artes plásticas – os artistas acabam por fazer combinações inauditas, levando a produção em arte eletrônica a novos estados, novas investigações e novos vetores.
DESLIMITES
É sempre inevitável para o artista interrogar-se sobre a identidade da linguagem que utiliza, sobre aquilo que a distingue de outras. Mas a mesma consciência que permite a busca dessa especificidade revela os caminhos para sua transgressão. O universo eletrônico se desenvolve num momento de expansão das linguagens artísticas e, rapidamente, a preocupação dos criadores deixa de ser a demarcação de um território próprio para se tornar um esforço na constituição de diálogos. Transgredir uma fronteira significa por vezes reforçar ainda mais o seu traçado, colocar os obstáculos em evidência para dar o devido valor à superação. Atualmente, parece haver um princípio de liberdade que não obriga à afirmação da especificidade do vídeo, mas menos ainda à sua negação. O que se percebe é um trânsito mais espontâneo entre o vídeo, a televisão, o cinema, a fotografia, a performance e a pintura, mas também entre o digital e o analógico, o plástico e o conceitual, o documental e o ficcional. Não são apenas interações conquistadas pela diplomacia entre os territórios. Alguns artistas simplesmente já não reconhecem as fronteiras e, assim, não vêem sentido em oficializar o momento de uma passagem. Nesse processo, mantêm o desafio político dos deslocamentos, mas, talvez, de forma ainda mais livre e subversiva, porque não negociam o trânsito, apenas ignoram os limites.
NARRATIVAS DESLOCADAS
Historicamente, a arte eletrônica se mostrou resistente às narrativas estáveis, marcadas por uma sintaxe linear. Por motivos diversos, a trajetória histórica da videoarte destacou trabalhos que se estruturam em narrativas mais abertas, associativas e fragmentárias. Essa tendência parece derivar de um conjunto de heranças advindas do cinema das vanguardas históricas e do cinema experimental que se articularam em torno do vídeo de forma a potencializar o caminho aberto pelos pioneiros. Nesse sentido, as narrativas mais típicas da videoarte são caracterizadas como espaços de experimentação e de polissemia. No entanto, a natureza camaleônica da arte eletrônica e a inquietude dos artistas levam a produção a outras paragens. Surgem obras que, sem abrir mão das experimentações formais, se lançam no âmbito das narrativas, à primeira vista, mais convencionais. Como sempre, esses processos de assimilação e fusão não são calmas transições, mas sim potentes esgarçamentos que acabam por enfraquecer aspectos e fortalecer outros. Nesse processo, imagens e sons são combinados em narrativas inusitadas que não se restringem mais à típica descontinuidade do vídeo e nem à estrutura estável ligada ao cinema de matiz clássico. O que deriva daí são narrativas que flertam com a linearidade, mas provocam pequenos e intensos deslocamentos, criando um espaço ambíguo entre a tradição audiovisual e sua apropriação nada ingênua pelos artistas.
ARQUIVOS REINVENTADOS
O mesmo acontece no campo do documentário experimental, que se amplia a cada edição do Festival. Em intenso diálogo com a tradição desse gênero, vários realizadores aproximam a produção documental de outros discursos. O documentário experimenta uma abordagem subjetiva, própria do estranhamento, tratando de questões sociopolíticas complexas por um viés pessoal. O audiovisual é visto como um território aberto ao exercício de uma espécie de política da subjetividade, na qual a experiência pessoal se conecta ao mundo e seus movimentos geopolíticos mais amplos. A tradição do documentário se torna, em muitos casos, uma matéria-prima passível de todo tipo de plasticidade e recombinação. Algumas de suas estratégias são revigoradas: o uso de material fotográfico de arquivo; a voz em off; a argumentação de viés político e tom contundente; os diálogos expressivos com a televisão em suas relações ambíguas de factualidade e ficcionalidade. Nesse âmbito, é sintomático o modo como muitos artistas recorrem a acervos de imagens documentais constituídos em contextos familiares, científicos, jurídicos. Diante do gigantesco repertório audiovisual à nossa disposição, permanece a necessidade de associar a imagem a um discurso, para devolver-lhe alguma vitalidade. Isso pode ser feito através de um resgate das referências históricas, mas também por meio de uma memória inventiva, isto é, de apropriação na forma de ficção. Alguns trabalhos mostram a angústia da dissolução de biografias e identidades. Outros constatam, com ironia, que o que resta é apenas o estereótipo de uma composição, que reduz o indivíduo singular a uma categoria. Mas recorrer aos arquivos não é apenas revirar o passado que foi alvo do registro. Há também o pensamento de quem o constituiu e o ordenou, pois não existe uma forma natural de acumular imagens, a não ser dentro da expectativa sempre fracassada de acumular todas as imagens. Assim, o que se oferece à leitura não é apenas o passado, mas os outros tantos olhares que já se lançaram sobre ele, criando novas zonas de foco e desfoque que, em parte, garantem sua sobrevivência e, em outra parte, decretam sua morte. A utilização do material de arquivo é uma estratégia subjetiva, estética e, ao mesmo tempo, ético-política.
TÁTICAS E PERFORMANCES
O viés mais marcadamente político da produção, que apareceu de forma tão explícita no 14º Videobrasil, ainda é perceptível. Parece mesmo ter havido uma ampliação e, poderíamos dizer, um amadurecimento dos trabalhos de intervenção estético-política, através do uso tático das mídias eletrônicas. Essa tendência, aliás, pode ser percebida como um eco, em novo contexto e por meio de estratégias renovadas, dos primórdios do vídeo, quando este se mostra uma poderosa linguagem para a crítica às instituições e aos totalitarismos de toda ordem. Os primórdios da arte eletrônica, assim como sua vocação política, ecoam também na retomada (e reinvenção) da performance, esta que, sabemos, motivou muitos dos pioneiros da videoarte. Mas, agora, mais do que nunca, a performance e sua tradução são intensamente transformadas, segmentadas, recombinadas através das técnicas de edição digital. À ação performática se acrescentam “performances” próprias da linguagem eletrônica potencializada pelo digital.
DESACELERAÇÕES
A produção atual revela ainda uma tendência algo paradoxal no uso dos recursos possibilitados pelas plataformas digitais. Se as experiências com o fluxo da edição, a fragmentação e a sobreposição permanecem inesgotáveis em suas possibilidades, sua contrapartida se faz cada vez mais presente. Muitos trabalhos têm explorado a desaceleração do movimento e a permanência da imagem na tela, numa duração às vezes desconcertante. Tira-se proveito de um modo de olhar construído pela tradição das imagens fixas, mas não apenas para travestir o vídeo de fotografia. Esse “retard” traz suas próprias questões e desvenda outros movimentos: os processos caóticos do mundo que revelam alguma ordem quando desacelerados; os pequenos deslocamentos para os quais nossa percepção já não parece ter sensibilidade; a vibração da imagem em sua própria trama eletrônica; o trajeto do olhar do espectador que pode descobrir o espaço em torno da tela enquanto a imagem permanece; por fim, o trânsito de idéias que podem ser articuladas pelo pensamento e rearticuladas à imagem que espera para acolhê-los. Há aqui um novo tipo de pregnância, não a que permite criar a ilusão de continuidade do movimento, mas a que dá à imagem certa espessura. FAGOCITOSE Fluidez e continuidade, mas também tensão, desgaste, desvio. Mais uma vez a produção artística ligada aos suportes eletrônicos e digitais nos surpreende com sua força de se renovar, de “fagocitar” e inventar territórios possíveis. Parece mesmo que a única característica comum a essa diversidade é a abertura para incorporar metamorfoseando, acelerar diálogos tensionando-os, tangenciar, atravessar percursos, desviando-os. Nesta 15ª edição do Videobrasil, como um novo mapa de experiências e em leituras transversais da realidade contemporânea, o meio eletrônico traduz o mundo atual em seu retorno à construção: de forma nãocanônica, como sempre, porém consciente de suas contaminações em diferentes contextos estéticos, bem como de suas estratégias políticas e performáticas de produção artística.
Comissão de seleção e programação: André Brasil, Christine Mello, Eduardo de Jesus, Ronaldo Entler e Solange Oliveira Farkas
ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL. "15º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil - 'Performance.'": de 6 a 25 de setembro de 2005, p.24 -27, São Paulo-SP, 2005.
Texto da comissão de seleção
Os trabalhos selecionados para o eixo Novos Vetores estão focados sobretudo em visões de mundo emergentes. São trabalhos inquietantes, marcados pela espontaneidade, pelo frescor e pela liberdade de transitar "despudoradamente" por diferentes técnicas e abordagens de contextos socioculturais, expandindo e reconfigurando os limites da produção artística por vir. Os prêmios dados pelo Festival, sobretudo neste eixo, visam a ampliar as colaborações e trocas possibilitadas pelas residências artísticas. O artista premiado prima pela criação de uma narrativa pessoal, que acaba por revelar as camadas de memória e de tempo que constituem a nossa experiência atual. Podemos nos lembrar do querido amigo e poeta Waly Salomão que, em um de seus poemas, dizia: "A memória é uma ilha de edição." O trabalho Un Cercle Autour du Soleil, do artista libanês Ali Cherri, trata de forma ímpar as relações entre as questões políticas de seu país e sua memória, mostrando uma visão peculiar da guerra civil no Líbano e as marcas deixadas na cidade de Beirute. O trabalho com a memória, as questões subjetivas vindas de percepções geradas pelo enfrentamento direto com as realidades e contaminações culturais típicas do cenário pós-colonial caracterizam o vídeo de Ali Cherri, que recebe o Prêmio FAAP de Artes Digitais.
André Brasil, Christine Mello, Eduardo de Jesus e Solange Oliveira Farkas
Texto de curadoria 2005
Prêmios
Seis distinções estão reservadas a obras da mostra competitiva Panoramas do Sul. Cada um de seus três segmentos será contemplado com um prêmio em dinheiro e um prêmio residência. Os prêmios em dinheiro serão atribuídos pelo júri oficial. Os prêmios residência serão concedidos a critério do Festival. Fruto de parcerias com escolas de arte e centros de mídia no Brasil e na Europa, os prêmios residência prevêem, cada um, a realização de uma obra de arte audiovisual, que levará a chancela do prêmio e será exibida pela primeira vez no Festival seguinte à premiação. A iniciativa de oferecer bolsas de trabalho se alinha com o objetivo da Associação Cultural Videobrasil de estimular a produção audiovisual do circuito sul. “Ao permitir a realização de obras, elas reforçam nossa idéia de minimizar o caráter de efemeridade do Festival, fazendo com que ele contribua para o intercâmbio, para o incentivo à pesquisa e para a constituição de um acervo”, diz a curadora Solange Oliveira Farkas.
Prêmio Faap de Artes Digitais
Ao longo de seus quase 60 anos, a Fundação Armando Alvares Penteado vem se consolidando como celeiro da produção artística contemporânea no Brasil. Mais do que uma escola de arte nos moldes tradicionais, sua Faculdade de Artes Plásticas se caracteriza pela ênfase na pesquisa e na formação de profissionais permanentemente inseridos nas discussões das práticas artísticas contemporâneas. A FAAP é berço de talentos reconhecidos nacional e internacionalmente, como Carmela Gross, Leda Catunda, Dora Longo Bahia, Sérgio Romagnolo e Caetano de Almeida. Parceria com a Associação Cultural Videobrasil, o Prêmio FAAP de Artes Digitais oferece a um jovem realizador brasileiro, participante do eixo Novos Vetores, um curso de quatro a seis meses na instituição e a oportunidade de realizar um trabalho audiovisual nos laboratórios da universidade, sob a orientação de um professor de seu corpo docente. A obra integrará a exposição anual de trabalhos de alunos. “A FAAP tem como objetivo amparar, fomentar e desenvolver as artes plásticas e cênicas, a cultura e o ensino. É um espaço de incentivo aos processos de pesquisa e experimentação artística”, diz Marcos Moraes, coordenador do curso de Artes Plásticas. “A criação do prêmio, junto a um dos mais importantes festivais de arte eletrônica do mundo, enquadra-se neste objetivo.”
Prêmio de Criação Audiovisual Le Fresnoy - França
O Le Fresnoy – Studio National Des Arts Contemporains é um centro de produção, pesquisa e pós-graduação em arte audiovisual que capacita jovens artistas a produzir trabalhos com equipamento profissional, sob a direção de artistas consagrados. Concebido e dirigido por Alain Fleischer, foi inaugurado em 1997 em Tourcoing, norte da França, e já teve Jean-Luc Godard, Gary Hill e Antoni Muntadas como professores convidados. A ênfase de seu trabalho está na ruptura das barreiras entre mídias e linguagens audiovisuais tradicionais e eletrônicas. Destinado ao eixo Investigações Contemporâneas, o Prêmio de Criação Audiovisual Le Fresnoy - França é oferecido desde 2003 pelo Consulado Geral da França em São Paulo, pela Aliança Francesa de São Paulo e pelo Le Fresnoy – Studio National Des Arts Contemporains. Dá a um artista acesso por três meses às atividades do centro, além de apoio logístico e meios técnicos para a produção e pós-produção de uma obra audiovisual.
Prêmio Videobrasil de residência no Gasworks
Localizadas no Oval Cricket, sudeste de Londres, as instalações do Gasworks comportam uma galeria e 15 estúdios, três deles reservados para o Programa de Residência Internacional, que permite a artistas estrangeiros morar e trabalhar em Londres por períodos de três meses ou mais. As residências incluem um programa educacional e social, que culmina no Open Studio, exibição na qual membros da comunidade artística são convidados a conferir os trabalhos realizados durante a residência. Desde a sua inauguração em 1994, o Gasworks já recebeu mais de 100 artistas de 50 países. O programa de residências estabeleceu-se firmemente na cena artística londrina por sua contribuição em promover a diversidade cultural e o intercâmbio artístico internacional. Em parceria com o Gasworks, o Festival oferece ao autor de uma obra do eixo Estado da Arte uma residência de três meses nos ateliês da instituição, com acesso a equipamentos, verba para desenvolver um projeto e facilidades de pós-produção. Para o artista premiado, é uma oportunidade real de inserção em um circuito de grande visibilidade. O Gasworks é dirigido por Robert Loder e, assim como a Associação Cultural Videobrasil, integra a rede de instituições apoiadas pelo Prince Claus Fund holandês. Troféu Para criar o troféu do Festival, o artista Luiz Zerbini baseou-se livremente em sua obra “Atlântico” (2004). Um dos artistas que despontaram na década de 80, Zerbini integra o grupo Chelpa Ferro e desenvolve sua linguagem na utilização diversificada de mídias como vídeo, escultura, fotografia, música, desenho, pintura, arte gráfica, ambientes e instalações.
“Filme de Guerra”: primeiro Prêmio de Criação Audiovisual Le Fresnoy - França
Programado para abrir a mostra Panoramas do Sul, “Filme de Guerra”, do paulistano Wagner Morales, é a primeira obra que resulta de um prêmio residência concedido pelo Videobrasil. Morales conquistou o Prêmio de Criação Audiovisual Le Fresnoy - França em 2003, com o vídeo “Ficção Científica”. Realizou “Filme de Guerra” dentro do centro de mídia francês, ao longo de uma residência de três meses, em 2004. Nesse período, teve acesso aos laboratórios e conferências do Le Fresnoy, além da orientação dos professores convidados da instituição. “Pela primeira vez, pude passar três meses mergulhado em um trabalho”, diz. Formado em antropologia, Morales produz vídeos e instalações desde 1998. A nova obra dá seqüência à série “Vídeo de Cinema”, na qual se dedica a desconstruir clichês de gêneros cinematográficos clássicos. São fruto da mesma pesquisa “Filme de Horror” (2003) e “Cassino: Filme de Estrada” (2003). Todos partem da identificação do que Morales chama o “clichê-matriz” de cada gênero. Transposta para um contexto absolutamente diverso, essa célula serve de princípio para o novo filme. “Nos filmes de guerra, este clichê básico é a espera. Pelo inimigo, pela carta de casa.” Os arredores do Fresnoy contaminaram a pesquisa: o centro fica a três horas da Normandia, palco do desembarque aliado na Segunda Guerra Mundial. Aviões, áreas isoladas e ruínas de construções militares pontuam os movimentos do vídeo, ao som de fragmentos de sinfonias de guerra e de um diálogo de “Tempo de Guerra” (“Le Carabiniers”), de Jean-Luc Godard. Ao compor a “presença material” de uma paisagem tornada angustiante pela guerra, o autor constrói uma pensata quase sem palavras sobre incomunicabilidade e militarismo.
ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL. "15º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil - 'Performance.'": de 6 a 25 de setembro de 2005, p.88-91, São Paulo-SP, 2005.
Downloads
- "Videobrasil premia Daniel Lisboa e libanês Ali Cherri na 3ª semana" (Ilustrada, Folha Online, 26/09/2005)
- "Veja vídeos da mostra competitiva do 15º Videobrasil, que acontece em setembro" (UOL, 12/08/2005)
- "Sesc Pompeia é vitrine da arte eletrônica do Mundo", por André Dib (Diário de Pernambuco, Viver, 23/09/2005)