Texto de apresentação Thomaz Farkas, 1985

VÍDEO-OLHO

O cinema soviético inventou o “cine-olho”. Nós vamos apresentar o “Vídeo-Olho”. Muito maior, mais acessível, por sorte, com chance de escapar do olho Orwelliano, pois oferece a oportunidade de escolha.

Segundo estimativas, devemos ter mais de um milhão de videocassetes em uso. Muito mais que projetores de cinema – de 8, 16 ou 35mm. São afinal mais simples, mais fáceis e podem estar na casa de todos.

Apesar de ainda reservado a uma classe privilegiada, já podemos prever que os videocassetes estarão nas escolas, nos clubes, nos sindicatos, muito antes do que se possa imaginar.

Não se trata apenas de um mercado a mais, novo ou adicional. Acreditamos que venha a ser um fato cultural característico, galopante e avassalador.

Seu usuário poderá escolher: a variedade de gêneros – ainda é restrita, mas está aí disponível, para quem souber se colocar nele.

Os videoclubes, à maneira dos cineclubes, nos apresentarão tapes de outra natureza e o público terá acesso a um elenco variado, que conterá especialidades para os que assim desejarem – vídeos de pesquisa; vídeo-arte; documentários; dança; música; esporte; hobbies; e tudo o mais que se inventar. Além de material importado, estamos percebendo o aparecimento de material nosso, com qualidade equivalente. E, consequentemente, estamos também percebendo um público enorme, muito voraz, querendo ver, ouvir, sentir. Desejando divertir-se e instruir-se. Pois bem, é só bater e entrar.

Catálogo do III Festival Fotoptica Videobrasil. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1985

Texto institucional Ivan Ísola, 1985

ANTENA LIVRE

Chegamos ao III VIDEOBRASIL. Ao que tudo indica, no ano da fundação da Nova República, veremos crescer o movimento que vem propondo modificações no sistema de telecomunicação brasileiro. Algumas das propostas que a sociedade vem elaborando para o setor foram registradas em várias manifestações públicas, seminários, congressos, para não falar dos projetos de lei elaborados pelo Congresso Nacional. Todas elas indicam na direção de mudanças que favoreçam o acesso da população e suas organizações aos meios de comunicação. O VIDEOBRASIL tem feito esforços no sentido de recolher os anseios políticos dos operadores do setor, bem como tem colaborado para que espaços sejam abertos para aqueles que produzem mas não encontram os meios de difusão do seu trabalho. Esta função do Festival evidenciou-se desde logo: no início da primeira edição do VIDEOBRASIL, o jornalista Goulart de Andrade ofereceu um horário da TV Gazeta para a produtora Olhar Eletrônico. Outros grupos passaram a ocupar pequenos espaços nas emissoras, mas ainda estamos muito distantes de um exercício pleno do direito à comunicação e a informação. Só pra darmos um exemplo a mais, durante estes três anos ainda não conseguimos colocar o Festival no ar, apesar da sua comprovada importância e representatividade. A sociedade, contudo, desenvolve suas defesas. Hoje é palpável a existência de amplos movimentos no sentido da criação de estações de rádio e televisões comunitárias. Algumas optam pela pirataria, num gesto de transgressão radical, mas a maioria se esforça na busca de alternativas legais. Um exemplo disto são as TVs que surgiram em cidades do interior, equipadas com câmeras e gravadores portáteis, com as quais são registrados e reproduzidos aspectos da vida local, da memória das cidades, para depois serem divulgados com a utilização de televisores colocados em bares, praças públicas, sedes de partidos e sindicatos. Diante deste panorama, contando com o consenso de várias produtoras de vídeo e de cinema, aproveitamos o III VIDEOBRASIL para propor a discussão destes problemas em nível político. Acreditamos que os produtores de audiovisuais, ainda marginalizados pelas grandes redes, merecem seu próprio canal de expressão.

Este Festival deve amadurecer uma proposta concreta que fundamente o pedido de um canal em UHF, a ser destinado à comunidade. Um espaço de acesso. Uma antena livre.

Catálogo do III Festival Fotoptica Videobrasil. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1985

Texto institucional Jorge da Cunha Lima, 1985

UM FESTIVAL DE TERCEIRA GERAÇÃO

Ao contrário do Super 8 que não teve tempo de amadurecer, nem no plano tecnológico, nem no adensamento intelectual, o vídeo cresce e aparece com a mesma precocidade dos computadores.

O único risco dessa sensível tecnologia, a serviço da cultura e da informação, é que o brinquedo fique com os criadores e o instrumento com os monopólios.

Toda expressão dos valores criativos das sociedades, no decurso do tempo, canonizou-se através de seus respectivos narcisos. Um espelho sem cujo reflexo o produto artístico não seria, nem ficaria. Às vezes, através da matéria, outras do suporte.

O que seria de Fídias sem o mármore ou de Giotto sem uma boa parede? Ou mesmo de Napoleão sem um exército?

O narciso moderno, expandido entre todos os estímulos que jamais instigaram os homens, é a televisão. Se o cinema alimentou quase um século de personagens de ficção, o vídeo atua sobre o homem representando o seu próprio papel. O Festival VIDEOBRASIL, 3ª geração do MIS-FOTOPTICA, abre quase no fim do século, no Ano Internacional da Juventude, esse novo diálogo dos moços com eterno Dr. Fausto. Só que agora não queremos vender a alma ao diabo. Já que possuímos o espelho, que ele seja o reflexo dos homens e não apenas da mão que segura a câmera.

Catálogo do III Festival Fotoptica Videobrasil. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1985