No início do filme, nosso olhar acompanha imagens daquilo que parece ser uma floresta silenciosa. Aos poucos, ouvimos o som de vozes humanas; na sequência, começamos a acompanhar um espetáculo de fogos de artifício e, então, imagens de animais empalhados surgem nessa paisagem, iluminados pelos fogos, como se estivessem por eles perturbados. Com um leve movimento de zoom in, somos convidados a refletir sobre os mistérios colocados pelo rosto e expressões dos animais. A obra dialoga com o poema The Snake Eater [O comedor de serpentes] (1901), do georgiano Vazha-Pshavela, cujo protagonista tem um talento sobrenatural para compreender a linguagem da natureza. Remetendo a relações interespécies, que fogem ao alcance das palavras, a sequência do filme parece revelar uma abordagem mais ativista: partir da magia da floresta, ouvir a linguagem e o sofrimento ocultos dos animais para reconstruir a oposição entre o humano e o natural.